Eu sou feita de sonhos. Gosto de voar bem alto
imaginando estar em busca daqueles que ficam por entre nuvens brancas cor de
gelo.
Ser sonhadora tem suas vantagens. Enquanto muitos
passam dias conectados a certo tipo de máquina que suga suas energias e as transforma
num trabalho que já se tornou previsível, eu consigo parar e projetar qual será
o próximo feito do homem após descobrir que, afinal, existe vida inteligente em
Marte. Eu quero dizer, sair de dentro da fábrica de produção em série e entrar
naquele mundo paralelo, onde eu posso alcançar o meu pote de ouro seja ele qual
for.
Ser sonhadora tem suas desvantagens. Enquanto os
realistas convictos correm atrás de cumprir suas metas e estabelecer novos
objetivos, eu continuo pensando sobre a vida em Marte. Isso não será ruim se eu
estiver na equipe que fez a descoberta, porém, eu tenho que lembrar de
aterrizar constantemente para saber que o chão existe e a realidade mora logo
ali.
Vivemos num mundo onde tudo acontece rápido demais.
A informação chega em um segundo, as crianças estão precoces, o casamento
começa cedo. E acaba cedo também. Daí que me pergunto se não seria melhor permanecer
no meu mundo de sonhos onde, como na história, vive-se com os pés descalços
tocando um chão macio feito veludo, tudo vira festa e as pessoas caminham
sorrindo. Aí seria demais, certo!?
Bom, se viver é a busca pelo equilíbrio, eu quero
chegar ao dia em que mesmo sem voar tão alto, eu não precise mais voltar os pés
ao chão.
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