domingo, 1 de julho de 2012


Era menina simples, com olhar curioso e mãos inquietas. Podia ficar um dia inteiro observando o trabalho de formigas cortadeiras. Não conseguia ficar um minuto no mesmo lugar sem estar incomodada com a quietude do lugar. Era ambígua, paradoxa, complexa.
Era moça viva, cheia de ideias na cabeça. Parecia não caber em si, um mundo tão grande que carregava no peito. O mundo e tudo dentro dele. Fazia questão do “tudo dentro dele”. Era importante, o recheio sempre é a parte mais gostosa do bombom de chocolate, seus amigos concordavam com ela.
Era senhora e teria o sorriso cansado, mas espírito satisfeito. Aquela sensação boa de chegar em casa, tirar os sapatos, afundar no sofá e apenas fechar os olhos se permitindo não pensar em nada. Quer dizer, em quase nada. Nada era muito para ela, sempre paradoxa.
Era senhora e estaria rodeada de gente, rodeada de lugares, rodeada de aromas, rodeada de sensações. Envolta por muito, a procura de algo.
Era senhora e já não se importaria. As coisas estariam fora do lugar, sem sinal da menina ou da moça. O barulho do relógio ainda a incomodaria, mas, seria trabalhoso demais levantar, aproximar, desligar. “Deixa pra lá, como está, assim, não tem mais jeito” – pensaria.
O branco do papel ofusca a vista no quarto que já começa a ficar escuro. Parece uma bola de cristal reluzente. Como nem tudo que parece é, melhor deixar escuro.
Bem escuro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário